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sábado, 15 de maio de 2021

Abbey Road - Lançamento, Recepção e Legado

Capítulo 47 


De minha saga  

O Universo das Canções dos Beatles

Todos os Capítulos da Saga têm acesso neste LINK 


47.1 O Cenário de Abbey Road, neste LINK

47.2 Os Assuntos de Abbey Road, neste LINK

47.3 As Canções Normais de Abbey Road, neste LINK

47.4 O Medley de Abbey Road, neste LINK

47.5 Lançamento, Recepção e Legado de Abbey Road 

Não se pode falar desses três títulos deste capítulo sem falar de seu mais importante marco:  a capa do LP Abbey Road. A efeméride, podemos chamar assim, foi tema de um dos meus mais lidos posts, com mais de 1000 acessos. Vou reproduzir partes dele aqui, com as necessárias adaptações e, para ler o resto, cliquei aqui, neste LINK.

Por que não vamos lá fora e atravessamos a rua?
disse ele a seus amigos, há quase 52 anos.

Essa pergunta, aparentemente bobinha e sem sentido, teria caído em esquecimento total e absoluto se fossem outros o lugar, os personagens envolvidos na cena, e o que aquele ato simples de atravessar a rua representaria para o mundo da música.

         O lugar:           Estúdios da EMI, em Londres
         O dia:              8 de agosto de 1969
         Ele:                 Ringo Starr
         Seus amigos:   John Lennon, Paul McCartney e George Harrison 
         A proposta:     Atravessar em fila indiana a Abbey Road,
                                 ter o movimento registrado em fotografia,
                                   e ter a fotografia estampada na capa 
                            do último disco dos Beatles,
                                     na minha opinião, o melhor de todos eles,
                                      não sem motivo, o mais vendido de sua carreira.
Estava a maior banda do mundo envolta em dúvidas sobre a capa e até mesmo sobre o nome do disco que estavam acabando de gravar. E era um disco especial, todos sabiam, John, nem tanto. Eles vinham de uma experiência que consideraram frustrada, o projeto Get Back, em que haviam embarcado numa ideia de volta às origens, e abandonado a batuta de George Martin, o grande produtor e mentor de seus discos até então. Só eles mesmos para ficarem frustrados com aquilo que viria a se tornar o último disco LANÇADO dos Beatles, que acabou levando o nome de Let It Be. Fiz questão de capitalizar o particípio qualificativo acima, para distingui-lo de GRAVADO, que é o que se aplica àquele disco sobre o qual pairava a dúvida da capa.
                 Estava praticamente combinado que eles voltariam a aparecer na capa, como somente haviam deixado de fazer no nono LP de estúdio, o famoso The Beatles, conhecido como Álbum Branco, pela total ausência de cor, inclusive no nome, que aparecia em alto relevo. Afora aquele álbum, todos os demais traziam a imagem deles na capa, fosse em foto ou desenho, e era bom para registrar as mudanças de visual do grupo: naquele verão de 1969, John, Ringo e George ostentavam grande cabeleira, e grossas barbas. Somente Paul, que nunca foi adepto do estilo cabelão, sempre optou por um visual mais comportado, estava de cara limpa, sem barba ou bigode. Aliás, até mesmo porque estava morto ... hehehe  ... depois explico.
            Restava saber aonde tirar a foto. Por uns bons dias, pensou-se em chamar o álbum de Everest, muito devido a uma marca de cigarros fumados incessantemente pelo engenheiro de som Geoff Emerick (que ganharia o Grammy por seu magnífico trabalho naquele disco). E chegou-se a fazer planos para ir ao próprio Everest para tirar a foto, mas a produção seria muito complicada. Dinheiro não era problema, mas acabaria atrasando o cronograma de lançamento do disco. Pensando bem, até que o local seria bastante apropriado, pois era o topo do mundo, exatamente aonde os Beatles se encontravam: no topo do mundo do entretenimento, não havia ninguém mais poderoso que eles.
                    Num belo dia, Ringo , em sua genial simplicidade, fez a proposta título. Discutia-se o nome do último disco, e como seria sua capa, ideias pululavam, além do Everest acima mencionado, Pirâmides do Egito, Coliseu, falava-se em altos custos, mas Ringo não estava querendo arriscar-se em lugares exóticos, que o obrigariam a comer feijão enlatado de novo, como fez na Índia, e soltou um: “Oh, come on!! Let’s cross the street and call it Abbey Road!!”. Aquele disco seria o último dos Beatles e aquela capa, a mais famosa capa de disco de todos os tempos, ao custo de poucas centenas de libras. 
Em tempo, aqui cabe um esclarecimento: desde sempre e até ano passado, eu atribuía a ideia a Paul. Só que Geoff Emmerick, o premiadíssimo engenheiro acima citado, que fumava Everest, contou em sua prestigiadíssima biografia, que foi de Ringo a sugestão. Seja engano dele ou não, achei bem plausível, pela simplicidade e pelo argumento, afinal, o querido baterista sofreu com seu fraco estômago, abalado por inúmeras doenças de infância (ver aqui neste LINK) sofreu com a comida indiana, o que foi decisivo para que voltasse mais cedo do retiro espiritual com o Maharishi no começo de 1968. Então, deixemos a glória para Ringo.

Proposta aceita, Paul fez o sketch ao lado, foi convocado o fotógrafo Iain Mcmillan, que estava de plantão, e saíram do estúdio. A produção teve alguma dificuldade para parar o trânsito, o fotógrafo subiu em uma pequena escada e tirou meia dúzia de fotos. Paul escolheu a que mais lhe agradou. Era o líder de fato do grupo, pois John já estava de saco cheio! Estava decidida e realizada mais uma capa Beatle. E o disco foi também nomeado Abbey Road, em homenagem à casa que os abrigara nos últimos sete anos, palco de muitas revoluções musicais. 
Bem, o restante daquele post celebrativo, inclusive contendo o motivo de por que, aqui acima, eu escrevi "até mesmo porque estava morto ...", você pode acessar no LINK acima informado, aqui não seria o local adequado para fofocas, disse-me-disses e teorias da conspiração que envolveram os membros da banda, à época. Mas vou falar mais um pouco da capa, do que ela provocou, afinal, faz parte do legado do álbum.
A capa de Abbey Road ficou mundialmente famosa. O citado fusca bege ganhou notoriedade imediata e começou a passar de mão em mão de colecionadores. Chegou a valer dezenas de milhares de libras, e hoje está no museu da Volkswagen, na Alemanha.

Desde o fim dos Beatles, todo santo dia, ao menos uma pessoa, às vezes dezenas, preferencialmente em grupos de quatro, repete a coreografia da capa, com pé trocado do 3º, que normalmente está descalço, e tudo o que tem direito. Entre elas, o bocó aqui! Estive lá pela primeira vez em 1992. Só que como eu estava sozinho, tive que esperar por outros três bocós para acompanhar-me na jornada e um 5º bocó para tirar a foto. E retornei algumas vezes: por menos tempo que eu tivesse, fosse apenas uma escala do vôo de ida ou de volta, eu pegava a Jubilee Line do metrô, descia na estação St. James Wood e repetia a coreografia.

E deixava, sempre, minha mensagem no muro dos estúdios da EMI. Claro que nunca encontrava a mensagem anterior: aquele local virou ponto de registro do amor pelos Beatles. Cada centímetro quadrado de sua tinta branca é preenchido com declarações, poemas, citações de letras, Beatles 4ever, fulano esteve aqui, sicrano ama beltrana, e coisas do gênero.  A velocidade de preenchimento é enorme: a cada três meses, o muro tem que ser repintado, para começar uma nova série de pichamentos, totalmente legais e autorizados!

         Quem tiver dúvidas sobre o fenômeno, pode ir ao site da EMI, e procurar a imagem: há uma câmara permanentemente ligada, registrando a movimentação aquela faixa de pedestres. Pode estar vazia agora, mas não demora muito e aparece alguém atravessando e fazendo pose. E se for a Londres, não deixe de pagar o seu mico!!!   

         É a única capa em que não aparece o nome do disco, apesar dos protestos dos diretores da EMI. Foi ideia do designer simplesmente conhecido por Koch, que teve seu trabalho muito facilitado porque a foto foi tirada sem a participação dele, mas sentiu-se poderoso o suficiente para se colocar na primeira pessoa junto  dos Beatles, dizendo: "Somos a maior banda do planeta, não precisamos de nome algum na capa". Mais um detalhe da foto: com exceção de George Harrison, que está em trajes excessivamente casuais, os demais três usavam ternos do renomado alfaiate Tommy Nutter. Outra curiosidade: o pobre dono do fusca teve a placa de seu carro - 28IF - roubada repetidas vezes por fãs enlouquecidos porque além de fazer parte do cenário da capa mais famosa de todos os tempos, era evidência de que Paul estava morto.... e o adjetivo 'pobre' foi imediatamente abandonado, porque decerto vendeu sua relíquia por enorme quantia, mais tarde. 

       O disco foi lançado em 26 de setembro no Reino Unido, e 1 de outubro nos Estados Unidos, direto para o topo das paradas, vendendo 4 milhões de cópias em dois meses. Em UK, ficou 18 semanas no topo, com um intervalo de uma semana em que os Rolling Stones assumiram com seu 'Let It Bleed', e saiu do topo em definitivo, após a chegada do álbum de Led Zeppelin com seu 'Led Zepellin II', mas permaneceu nas paradas por 81 semanas. Nos EUA, foi o álbum mais vendido do ano, permanecendo 11 semanas no topo da parada, e chegou aos 7 milhões ao final da década de 1970. E nada se compara a seu desempenho no Japão, em termos de longevidade, pois ficou 100 semanas nas paradas. No mundo todo, suas vendas estão a caminho da marca de 40 milhões de cópias. Foi o LP mais vendido no mundo em 2019, isto é, 50 anos depois!

        A contribuir com o conteúdo das canções em si estava o som mais puro que se ouvira até então, muito por causa das inovações técnicas, começando pela aposentadoria das válvulas em favor dos transistores na mesa de mixagem, uma filosofia que foi exportada para outros ramos da eletrônica, quem viveu a década de 1970 vai se lembrar do que aconteceu com as televisões em nosso ambiente doméstico. O som estava mais redondo, mais macio, nunca o som do baixo foi tão nítido. O álbum inteiro foi gravado em 8 canais, e cada um deles podia ser tratado em separado com compressão de som e limitadores. Foi o primeiro álbum a ser gravado apenas em som estéreo, para desgosto de muitos puristas que preferem o som monaural, se alguém quiser me convencer que este é melhor que aquele, nem tente, não vai conseguir. O grande George Martin era um que sempre preferiu o Mono ao Estéreo. Perceba a diferença, por exemplo ao ouvir a bateria de Ringo em The End, a primeira e única vez em que teve dois canais dedicados a ela, ou o viaje no efeito da cantada de Paul na Rainha passeando por sua cabeça! Na instrumentação, destaque para o Sintetizador Moog, uma geringonça eletrônica que George adquiriu e emprestou ao estúdio, e foi utilizado para contar porque o céu é azul e faz John chorar, e em outras três canções. Além do ribbon controller sensacional, usado por George saudando a chegada do Sol. E, saindo da eletrônica a caminho do básico, houve os sinos saudando o sentimento mágico de Paul sem ter aonde ir, e a incrível bigorna onde Maxwell batia seu martelo de prata, treinando para seu uso em outros alvos mais macios! E sem se esquecer dos efeitos usados na medida certa, desde os sons de fundo do mar no jardim dos polvos onde Ringo se refugiou, ao vento ensurdecedor abafando o grito primal de John pelo tão pesado amor de sua vida.

A crítica, depois de um breve período com uns poucos pentelhos criticando a complexidade e o afastamento dos sons que pudessem ser reproduzidos ao vivo, implicando até com o sintetizador, acabou por se render e se desmanchar de elogios, criativo, inovador, impressionante, de tirar o fôlego, e o elogio definitivo de 'o melhor da carreira', que é como eu o classifico. Em todos os rankings de que participou, ganhou a nota ou grau máximo (de 0 a 100, 100; de 0 a 10, 10; de nenhuma a 5 estrelas, 5; de A a E, A, às vezes A+). E a EMI ficou tão impactada que mudou o nome do local onde o disco foi gravado, de EMI Studios para Abbey Road Studios. Muito justo! 

Seis dias antes do lançamento de Abbey Road na Inglaterra, John Lennon anunciou aos demais que não era mais um Beatle.... Todos esperavam por isso, mesmo assim ficaram perplexos com a confirmação da suspeita. Os próximos meses seriam tempos difíceis, temos de desavenças, desacordos, disputas, desvario, e por que não, desespero para os poucos que sabiam do desenlace, além deles. Nós, fãs, nem desconfiávamos de nada. 

Felizmente, como nada dos Beatles seria deixado para trás, as fitas do Projeto Get Back, lá de janeiro, foram trabalhadas, editadas e transformadas naquele que seria o último álbum lançado pela maior banda de todos os tempos.

Vem aí!

LET IT BE

3 comentários:

  1. Eu tbm sou um bocó, estive em Londres pela primeira vez em 1986 e atravessei a rua. Em 2016, passei minhas férias em Londres e fui em quase todos os endereços Beatle. Em Abreu road fui umas 5 vezes. Inclusive no último fim de semana, fui me despedir!!! Hehehehe

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  2. Eu tbm sou um bocó, estive em Londres pela primeira vez em 1986 e atravessei a rua. Em 2016, passei minhas férias em Londres e fui em quase todos os endereços Beatle. Em Abreu road fui umas 5 vezes. Inclusive no último fim de semana, fui me despedir!!! Hehehehe

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  3. Pois é, rapaz. Um disco maravilhoso como era de se esperar. Eles sempre se suplantavam. Olha, a gloria da boa ideia de atravessar a rua foi realmente de Ringo. Isso já foi dito em outros lugares além da biografia citada. Ringo era perito nessas coisas. Ele falava coisas inesperadas ...e que eram aproveitadas. Como Tomorrow Never Knows e A hard day's Night. Entao não se trata de deixar a glória para ele. Foi ele mesmo quem teve a brilhante ideia! Nunca vi em lugar algum que teria sido de Paul. E olha, John não estava assm tão desinsteressado não. Ele escolheu o fotógrafo. Pode não ter escolhido a melhor foto, mas exigiu que fosse aquele fotográfo em especial. De modo que estavam todos muntos fazendo o disco...e não apenas Paul.

    Felizmente, estavam juntos e por isso ficou tão bonito. Eu digo que é uma sinfonia.

    É decididamente a capa mais icônica dos Beatles. Acredita que tem gente que duvida? Outro dia vi uma pessoa no Quora dizendo que seria uma capa do Pink Floyd. Nem pensar. Não há como não ver que a capa está em todos os lugares servindo até para ensinar as pessoas a atravessar na faixa. Um país por aí a adotou.

    Fazem piadas com ela, vemos desenhos animaados atravessando a rua...parece que tem um filme onde os pesonargens chegam a Londres por baixo da terra...e onde vão parar? Em Abbey Road logo quando os meninos estavam fazendo a travessia.
    Vemos animais atravessando a rua inocentemente,,,mas parecendo eles Vi quatro capivaras fazendo isso. E eles podem ser vistos andando pelo universo até em cima das nuvens...Accross the Universe.
    Pois fizeam até uma montagem deles chegando aqui na minha avenida. Levei o maior susto quando vi na página da prefeitura de minha cidade. Os Beatles chegando um atras do outro como na capa do disco na Av. Cel. Prates Montes Claros MG. Eta sonho.

    Bem lembrado...Sim, o estúdio passou a ser Abbey Road Studio graças aquela obra prima da música do nosso tempo.
    Bem completo seu texto, bem informativo, parabéns. Mas todos são cheios de novidades. Eu não sabia nada sobre o sintetizador. Aprendi agora.

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